A SAÚDE DOS TREINADORES: ESTRESSE CARDIOCIRCULATÓRIO EM TREINADORES, PROFISSIONAIS DE ESPORTES COMPETITIVOS. UMA ABORDAGEM POUCA CONHECIDA E VALORIZADA

 A SAÚDE DOS TREINADORES: ESTRESSE CARDIOCIRCULATÓRIO EM TREINADORES, PROFISSIONAIS DE ESPORTES COMPETITIVOS. UMA ABORDAGEM POUCA CONHECIDA E VALORIZADA

Treinador espanhol elogia o Brasil: 'Jogadores espetaculares'

ESTRESSE CARDIOCIRCULATÓRIO EM TREINADORES, PROFISSIONAIS DE ESPORTES COMPETITIVOS. UMA ABORDAGEM POUCA CONHECIDA E VALORIZADA

Caros, todos só querem abordar o atleta, e a saúde do treinador para suportar toda a sobrecarga de cobranças, como é que fica? Ao contrário dos jogadores, os treinadores de futebol e outros esportes raramente são sujeitos a estudos científicos no que diz respeito à fisiologia (clínica) do exercício, embora representem um grupo excepcional exposto a situações e fatores de stress únicos (Fletcher e Scott, 2010).

No esporte profissional de hoje, os treinadores de futebol estão entre os que recebem maior atenção do público e, portanto, potencialmente com maior pressão individual. Além da organização e supervisão do treino e dos jogos, os treinadores têm de equilibrar as influências dos árbitros, jornalistas, jogadores
e seus dirigentes (diretores, presidentes, conselheiros, etc).

“o treinador deve ser avaliado rotineiramente como é avaliado o atleta”

Vários estudos indicam um considerável estresse psicológico resultante, e parece provável que isso resulte em ativação do sistema nervoso simpático, pelo menos durante as partidas. Estressores repetidos desse tipo podem até levar a alterações ateroscleróticas de longo prazo. 3 Quando os treinadores são antigos jogadores, isto normalmente significa uma mudança do trabalho físico durante algumas horas do dia para o trabalho cognitivo (pensamento) durante períodos muito mais longos e sob vários fatores de stress adicionais (mídia, patrocinadores, requisitos internos do clube, comunicação, etc.). Embora a vigilância médica seja mais rigorosa nos jogadores, é muito mais flexível nos treinadores, aqui no Brasil praticamente NÃO existe, o que significa que condições cardíacas podem ser pré-existentes ou decorrentes de estresse crônico (ou simplesmente do envelhecimento) do treinador (a) que podem passar despercebidas e, assim, representar um perigo para a saúde dos mesmos. Como os atletas a resposta cardiovascular dos treinadores deveria ser avaliada preventivamente com regularidade pelos clubes.

Sérgio Guedes, 61 anos (treinador de futebol), Sofre infarto

Técnico da Portuguesa Santista sofre infarto um dia após perder final | Metrópoles

Recentemente, o técnico da Portuguesa Santista, Sérgio Guedes, foi hospitalizado após sofrer um infarto, na manhã desta segunda-feira, 8 abril de 2024, em Santos, no litoral de São Paulo. Sabe-se que a estimulação simpática (com muita adrenalina) proveniente do sistema nervoso simpático durante as partidas pode agravar essas condições e levar a arritmias, isquemia e estresse na parede miocárdica.

Portanto, conhecer o perfil cardiocirculatório dos treinadores submetidos ao estresse induzido
pelos jogos é plenamente justificável.

Taylor Cowan (treinador de futebol), Sofre infarto

CPR Training Saves Youth Football Coach After Cardiac Arrest on Field | University of Utah Health

Taylor Cowan foi salvo por transeuntes quando sofreu um ataque cardíaco enquanto treinava
um time de futebol juvenil em Herriman, Utha, USA em 2023.

John May, da BBC Sport Online, revela os resultados de uma experiência assustadora entre
treinadores de primeira linha no fuetbol inglês. Dave Bassett (Leicester FC) e Sam Allardyce
(Bolton FC) contaram essa história e mostraram que os treinadores literalmente colocam seu
coração e alma em uma das ocupações mais estressantes que existem, o futebol a beira do

Daryl Hayes (treinador de futebol americano), Sofre infarto aos 48 anos

Bishop Gorman football, wrestling coach Daryl Hayes announces retirement | News | tylerpaper.com

Mike Leach (treinador de futebol americano) Sofre infarto em 2022

Mike Leach, longtime college football coach, dead at 61 | Fox News

Jim Jefferies (treinador de futebol), Sofre infarto em 2019 no campo.

Jim Jefferies recovering after heart attack | Football News | Sky Sports

 Bassett, técnico do Leicester City FC, e

Dave Bassett, 2001-2002

Allardyce, técnico do Bolton Wanderers FC

Training Ground Guru | Why Allardyce's Bolton was the performance talent factory

 

Participaram de um experimento cientifico que mostrou que os treinadores colocaram
suas vidas em risco. A dupla de treinadores foi conectada a monitores cardíacos para um
documentário de televisão, e as evidências produzidas foram assustadoras. Em alguns
momentos da tensa luta para o NÃO rebaixamento entre Bolton FC e Leicester FC, que
terminou em 2 a 2 a partida, ambos estiveram perigosamente perto de sofrer graves
problemas cardíacos. A partida viu o Bolton FC reduzido a nove jogadores nos primeiros 20
minutos, quando o Leicester venceu por 2 a 0. Muzzy Izzet, do Bolton FC, foi expulso e, em
um final tenso e dramático, o Bolton FC marcou nos acréscimos para salvar o empate em 2
a 2.

Porque o coração desses treinadores correu risco?

Durante a partida, a pressão arterial (PA) e a frequência cardíaca (FC) de Allardyce treinador do Bolton FC atingiram níveis potencialmente perigosos (ver gráfico abaixo). A certa altura da partida, sua frequência cardíaca atingiu 160 batimentos por minuto (muita ação simpática com muita adrenalina), quatro vezes o pulso normal em repouso. Os resultados de Davi Bassett treinador do Leicester FC foram igualmente perturbadores. Sua pressão arterial atingiu o pico de 190 mmHg (muita ação simpática com muita adrenalina), ele também sofreu batimentos cardíacos irregulares quando o jogo atingiu o clímax e sua frequência cardíaca atingiu 120 bpm.

O experimento foi realizado pelo principal especialista em coração, o cardiologista Dr. Dorian Dugmore, para o programa Tonight With Trevor McDonald. Ele disse: “O resultado final é que, semana após semana, esses caras podem estar colocando
seus corações em risco. “Aumentar a frequência cardíaca nesse tipo de nível normalmente só
aconteceria se você tivesse feito um treino vigoroso na academia. O gráfico mostra a
frequência cardíaca (amarelo) e a pressão arterial (vermelho) de Sam Allardyce treinador
do Bolton FC. Observem que a frequência cardíaca e a pressão arterial dele na beirada do
campo é como se ele estivesse fazendo uma corrida e ele está apenas parado ou
caminhando.

“Esses treinadores estão alcançando esses níveis de estresse cardiológico simplesmente
assistindo a uma partida. Se esse treinador já tiver propensão para evento cardíaco, o gatilho
pode ser essa resposta aumentada da frequência cardíaca e da pressão arterial e pode haver
um risco grave envolvido e o resultado pode ser um ataque cardíaco, uma parada cardíaca
ou uma angina grave. “É muito mais perigoso quando o estresse provoca essa resposta,
porque a adrenalina tende a estreitar as artérias e isso pode contribuir para o risco de doenças
cardíacas. “Seu coração precisa estar em forma para suportar essas ondas de pressão. O
treinador precisa fazer treinamento físico também de maneira preventiva. Infelizmente, muitos
treinadores são ex-jogadores e não se cuidam, acreditam que por ter sido atletas e feito muito
exercício eles estão protegidos, é um lego ENGANO, pois se não cuidarem de si próprios,
correrão um risco significativo de eventos cardiológicos. O nosso Laboratório tem uma
experiência com ex-futebolistas e uma grande maioria se tornaram diabéticos, obesos e
hipertensos. Portanto, caíram na vala comum da população. O treinador Bassett do
Leicester FC disse à BBC Sport Online: “Foi uma experiência muito interessante. “Os
resultados foram metade do que pensei acontecer. Mas gosto do que faço e, para mim, vale
a pena o risco. Há o perigo de que, por estarem tão consumidos pelo seu trabalho, os
treinadores não cuidam de si mesmos O treinador Allardyce do Bolton FC disse: “Programas
como este nos tornam mais conscientes de que devemos cuidar muito melhor de nós mesmos.
“Mas é mais fácil falar do que fazer com o estresse do trabalho.” A intensa pressão exercida
sobre os treinadores foi revelada pelos problemas do técnico do Liverpool FC, Gerard
Houllier. Ele passou por 11 horas de uma cirurgia que salvou sua vida depois de adoecer
durante o confronto do Liverpool na Premiership com o Leeds FC, no Anfield, campo do
Liverpool FC. Mas Houllier é apenas o mais um de uma linha de treinadores que sofreram problemas cardíacos no futebol inglês.

O técnico do Blackburn FC, Graeme Souness, passou por uma cirurgia de ponte de safena, o técnico do Luton FC, Joe Kinnear, sofreu um ataque cardíaco antes de um jogo em Wimbledon em 1999, e o técnico do Peterborough FC, Barry Fry, também sofreu um ataque cardíaco. O gráfico mostra a frequência cardíaca (FC) (amarelo) e a pressão arterial (PA) (vermelho) de Dave Bassett.

O CEO da League Managers’ Association, John Barnwell, disse que os resultados apenas sublinharam a enorme pressão sob a qual os treinadores operam. Ele disse: “A intensidade é enorme e cresceu. “O que aumentou na gestão do futebol é a intensidade do trabalho, que é claustrofóbico (disse). “Ele está com você sete dias por semana e há perigos nisso porque eles estão tão consumidos com seu trabalho que não cuidam de si mesmos. Talvez o lembrete mais arrepiante das tensões e tensões que os treinadores sofrem tenha sido o de Jock Stein.

O querido técnico do Celtic FC da Escócia desmaiou e morreu de ataque cardíaco no apito final de uma partida de qualificação para a Copa do Mundo contra o País de Gales, em Ninian Park, em 1985. A morte de Stein pode ter servido como um lembrete sombrio para os treinadores se cuidarem. Mas à medida que o custo do sucesso e do fracasso continua aumentando, a experiência realizada pelos treinadores Bassett do Leicester FC e Allardyce do Bolton FC demonstra claramente que é necessário ações preventivas também para os treinadores. Estes resultados mostrados sobre dois treinadores de futebol, tem sido
confirmado por vários estudos que indicaram um considerável estresse psicológico resultante (Olusoga et al. 2009; Fletcher e Scott, 2010) de suas atividades a beira do campo.

Há indicações de que o stress crônico no trabalho, tal como é esperado nos treinadores (Fletcher e Scott, 2010), pode levar a deficiências ou mesmo danos cardiovasculares secundários (Kivim et al. 2006). Isto é provavelmente parte da explicação por que a saúde dos ex-atletas que se tornaram treinadores não tem sido uniformemente considerada (Turner et al. 2000;

Kontro et al. 2018). Os estressores agudos para treinadores profissionais durante partidas de futebol surgem principalmente da pressão psicológica e – além de outros mecanismos podem ser expressos bioquimicamente pela liberação de catecolaminas (hormônios com adrenalina, cortisol, etc). Os efeitos cardíacos prejudiciais de tal ativação são mais prováveis em treinadores com doenças preexistentes (James et al. 2000). Neste caso, o gatilho passa ser o agente estressor. A literatura cientifica já detectou eventos clinicamente significativos, em espectadores de futebol (Lin et al. 2019) que provavelmente são expostos a um estresse semelhante, embora menor do que aquele que acontece sobre o treinador.
Ideia de uma pesquisa com os treinadores.

Protocolo experimental de rastreio:

(1) história, exame físico;

(2) um exame médico cardiovascular com ECG de repouso e de esforço; medição de pressão arterial;

(3) Exames em dia de jogo com amostras de sangue venoso antes e depois da partida, bem como registro
ambulatorial de eletrocardiograma (ECG) no dia de jogo. A participação no estudo seria por convite aos clubes.

Exames no dia do jogo
A ideia é pedir aos treinadores que autorizassem o acesso a um jogo “importante” para aumentar a probabilidade de stress psicológico. Eles seriam avaliados no dia do jogo, nas últimas 2 horas antes do jogo. Neste momento, o sangue venoso seria coletado de uma veia antecubital para determinar cortisol, troponina I e peptídeo natriurético cerebral (BNP). Os treinadores receberiam uma camisa que permitisse a gravação de um ECG ambulatorial (ECG de 1 canal) durante todo o período pré-jogo e da própria partida até a retirada do aparelho, 30 minutos após a partida. A camisa seria usada sob roupas normais e invisível para todos os espectadores (5 tamanhos diferentes disponíveis).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além de algumas doenças cardiovasculares preexistentes, a triagem médica em treinadores mais velhos quando realizada revela um perfil de fatores de risco semelhante ao da população geral. Uma partida de futebol profissional representa um estressor relevante para os treinadores e seus assistentes no que diz respeito à ativação simpática (sistema nervoso acelerado) demonstrada pelas medições da frequência cardíaca e da pressão arterial que chegam a elevados patamares. Esta excitação simpática pode ser o gatilho.

Portanto, a combinação de condições cardíacas pré-existentes (tal como foram detectadas em alguns treinadores avaliados) e o estresse relacionado com os jogos podem colocar os treinadores afetados em risco e justificar exames de rastreio. Consideramos benéfico para os treinadores que lhes seja permitido movimentar-se dentro da sua zona de orientação porque isso potencialmente leva a uma resistência periférica total reduzida em comparação com uma posição sentada no banco de reservas.

O treinamento físico para os treinadores é uma necessidade, pois aumentar o seu nível de aptidão física acima da média os prevenirá de possíveis eventos cardiovasculares. O DEA (Desfibrilador Externo Automático) deveria estar disponível nos centros de treinamentos dos clubes, pois ele ajuda a recuperar a função cardíaca normal de doenças cardíacas agudas, como parada cardíaca súbita, fornecendo análise da função cardíaca e choque elétrico, se necessário. Onde os profissionais de saúde do clube deveriam ser treinados para essas emergências.

A SAÚDE DOS TREINADORES: POR DR PAULO ROBERTO SILVA – DSc, (PhD FMUSP), (Post PhD I – Unifesp-Medicina), (Post PhD II FMUSP-Ciências)

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