Como a F1 normalizou viver pressão das equipes por mudanças de regras.

Como a F1 normalizou viver pressão das equipes por mudanças de regras.

Lewis Hamilton e Nico Rosberg comandaram a disputa por títulos entre 2014 e 2016 na F1 - Dan Istitene/Getty Images

Lewis Hamilton e Nico Rosberg comandaram a disputa por títulos entre 2014 e 2016 na F1Imagem: Dan Istitene/Getty Images

Em um daqueles episódios de pós-verdade das mídias sociais, apareceu uma entrevista da rádio BBC em que “um engenheiro da Mercedes” supostamente revelaria que os alemães testaram antes as regras que foram aprovadas pela FIA para a mudança do regulamento de motores da F1 em 2014. Foi justamente esse regulamento que ajudou o time a se tornar a equipe com mais títulos em sequência na história da categoria entre aquele ano e 2021.

Na verdade, a entrevista é com Sam Bird, piloto da Fórmula E e que, no começo da década de 2010, estava na Mercedes. Ele diz no clipe que testava soluções para a unidade de potência, as informações eram passadas pela FIA e foram adotadas no regulamento.

sso não é nenhuma novidade. Em 2015, Bernie Ecclestone já havia admitido que a vantagem que a Mercedes conseguiu no começo da era híbrida tinha a ver com a maneira “próxima com que eles trabalharam com a FIA no estágio em que o conceito do novo motor estava sendo definido. É por isso que eles começaram tão bem. Agora alguém tem de tirar isso deles”, disse o ex-dono dos direitos comerciais da F1 ao canal italiano Sky Sport 24.

Equipes ajudam (e influenciam) criação de regras na F1

Então por que as outras equipes não se revoltaram? A FIA é o órgão que cuida das regras, mas eles não têm a mesma capacidade de simulação das equipes, que ainda por cima atraem os melhores profissionais, ofereceram salários mais altos do que a federação. Então as regras são feitas dentro de grupos técnicos (de motores, de ultrapassagens, etc) formados por membros das equipes e membros da FIA. As variadas propostas são analisadas por esses grupos, que propõem as regras. E elas são testadas pelas equipes, que vão refinando-as até que o regulamento passa por votação.

É claro que esse processo também é um exercício de política e poder. Dentro dos grupos de trabalho, as equipes vão pressionar para que as regras adotadas sejam as que os privilegiam. E cabe aos demais tentar prever e bloquear isso.

Na época em que as regras dos motores de 2014 foram decididas, a Mercedes tinha um enorme poder de barganha. Eles tinham ajudado a “salvar” a equipe que a Honda deixou para trás, fornecendo motores de graça e depois comprando a Brawn. A F1 tinha perdido Honda, Toyota e BMW com a crise de 2008 e estava indo para o caminho híbrido mesmo com a resistência da Ferrari.

Segundo Ecclestone, a proposta mais alinhada à Mercedes foi a colocada para votação porque eles ameaçaram sair também. Mas a Ferrari tem poder de veto na F1. E optou por não usá-lo.

A maneira como tudo está interligado na F1 é sempre interessante de observar. As equipes estão constantemente lutando por poder para ter vantagens nos regulamentos e regras, e o poder de influência de cada uma vai mudando com o tempo.

A maneira como tudo está interligado na F1 é sempre interessante de observar. As equipes estão constantemente lutando por poder para ter vantagens nos regulamentos e regras, e o poder de influência de cada uma vai mudando com o tempo.

ferrari - Ferrari - Ferrari

Ferrari tentou mudar regras em 2017, sem sucesso Imagem: Ferrari

A Ferrari, inclusive, tentou fazer a F1 mudar de novo de motor em 2017. Eles propuseram um V8 com dois turbos, mas Mercedes e Honda (que já tinha retornado à categoria) ameaçaram sair e barraram a proposta. Dois anos antes, a Scuderia tinha usado seu poder de veto para barrar um teto de gastos para motores e caixas de câmbio…. – Veja mais em https://www.uol.com.br/esporte/colunas/pole-position/2023/04/24/como-a-f1-normalizou-viver-pressao-das-equipes-por-mudancas-de-regras.htm?cmpid=copiaecola

Red Bull também conseguiu o que queria com congelamento

Outro bom exemplo é a Red Bull. No final de 2020, foram eles que ameaçaram sair da F1 (o que significaria a perda de duas equipes) durante as negociações do regulamento dos motores de 2026. Eles fizeram lobby pelo congelamento do desenvolvimento das unidades de potência, começando em 2022. Isso aconteceu depois que a Honda tinha anunciado que sairia do esporte, ou seja, a Red Bull queria continuar usando os mesmos motores sem sofrer uma queda de performance. E conseguiu.

Quando eles começaram esse lobby, sabiam da atualização que a Honda tinha na manga, usando materiais diferentes na composição das baterias e que estreou em 2021. E agora têm o motor mais eficiente da F1 pelo menos até o final de 2025, quando as regras mudam. Eles também conseguiram atrasar em um ano a adoção do novo motor, o que dá mais tempo para a Red Bull Powertrains, sua própria divisão de motores, que agora tem a Ford como parceira, tomar forma.

horner - Mark Thompson/Getty Images - Mark Thompson/Getty Images

Christian Horner nos boxes da Red Bull Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Assim como no caso da Mercedes lá no começo da década passada, tanto o congelamento, quanto a mudança da data de implementação da regra passaram por votação entre todas as equipes. Ou seja, ainda que a vontade política da Red Bull tenha prevalecido, isso aconteceu com a aprovação dos rivais.

Mas também é verdade que esse poder que a Mercedes teve para a decisão a respeito das regras não é tão grande hoje, já que a Liberty Media investiu em simulação sob a batuta de Ross Brawn justamente para diminuir o poder dos times. Mas é inevitável que eles sempre estejam um passo adiante e joguem com isso para obter vantagem.

Fonte: UOL Esportes

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