Desafios e oportunidades na gestão de resíduos eletroeletrônicos e eletrodomésticos segundo a ONU
A escalada vertiginosa desses resíduos, aumentando a uma taxa cinco vezes mais rápida do que nossa capacidade de reciclagem, deve ser um alerta para todos. Em 2022, atingimos a marca de 62 milhões de toneladas desses materiais descartados, representando um aumento significativo de 82% desde 2010. Para ilustrar a magnitude desse problema, pense em 1,55 milhão de caminhões de 40 toneladas alinhados, formando uma fila que circunda o globo na linha do Equador. Este é o volume de resíduos que o mundo produz em apenas um ano.
Além dos números globais alarmantes, uma análise mais aprofundada por região revela padrões interessantes e preocupantes. Ao examinarmos os principais produtores per capita de resíduos de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, constatamos que a Europa lidera, com 17,6 kg por pessoa, seguida pela Oceania, com 16,1 kg, e pela América, com 14,1 kg. Esses números ressaltam a magnitude do desafio que enfrentamos em todas as partes do mundo, independentemente do desenvolvimento econômico ou do tamanho da população. Uma observação notável é o papel do Brasil como o principal gerador de resíduos na América do Sul, contribuindo com 2,4 milhões de toneladas para o total global.
A falta de uma cultura de descarte adequado é um dos principais responsáveis por essa crise. Muitas vezes, os consumidores simplesmente descartam seus dispositivos eletroeletrônicos e eletrodomésticos antigos de forma irresponsável, sem considerar o impacto ambiental ou a possibilidade de reciclagem. Esse comportamento não apenas desperdiça recursos valiosos, mas também coloca em risco nossa saúde e o meio ambiente. Os materiais tóxicos presentes nesses dispositivos podem contaminar o solo, a água e o ar, contribuindo para uma série de problemas ambientais e de saúde pública.
As projeções futuras são igualmente preocupantes. O relatório sugere que podemos esperar um aumento anual de 2,6 milhões de toneladas na geração de resíduos de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, com a possibilidade de atingir 82 milhões de toneladas até 2030. Esses números não devem ser ignorados, pois têm implicações econômicas, ambientais e sociais significativas.
No entanto, nem tudo está perdido. O relatório também destaca uma oportunidade para uma mudança positiva. Se os países conseguirem aumentar as taxas de recolhimento e reciclagem para 60% até 2030, os benefícios econômicos e ambientais superarão os custos em mais de US$ 38 bilhões. Isso não é apenas viável, mas também essencial para garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que todos os setores da sociedade se unam em prol da causa. Governos, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos têm um papel fundamental a desempenhar na implementação de políticas e iniciativas que incentivem a reciclagem responsável. Além disso, é importante educar e capacitar os consumidores para que possam fazer escolhas informadas e adotar práticas de descarte sustentáveis.
A transição para uma economia circular, na qual os recursos são reutilizados e reciclados de forma eficiente, é essencial para enfrentar os desafios apresentados pelo aumento dos resíduos de eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Ao adotarmos uma abordagem holística e colaborativa, podemos transformar essa crise em uma oportunidade para promover um futuro mais sustentável e próspero para todos.
Em última análise, trata-se de mais do que apenas gerenciar resíduos, trata-se de proteger nosso planeta e as gerações futuras. É hora de agir com determinação e visão, antes que seja tarde demais.
*Helen Brito – Gerente de Relações Institucionais da ABREE — Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos.