QUANDO A IDADE NO FUTEBOL COMEÇA A PESAR PARA O ALTO

QUANDO A IDADE NO FUTEBOL COMEÇA A PESAR PARA O ALTO

Fifa the Best awards: Who did the likes of Cristiano Ronaldo and Lionel  Messi vote for? | The Sun

RENDIMENTO NAS CINCO PRINCIPAIS LIGAS EUROPEIAS

Atletas de elite estão envelhecendo. Sabemos que os jogadores podem dar os seus melhores níveis de desempenho por mais tempo agora do que há algumas décadas. O treino ficou mais sofisticado, os jogadores se cuidam melhor e a ciência ajudou a entender o que devemos fazer para cometer menos erros. No tênis, por exemplo, a média de idade dos 100 melhores jogadores masculinos na última década passou de 26,2 para um máximo histórico de 27,9 anos (Kovalchik, 2014).

No futebol, a idade média dos jogadores que participaram na Liga dos Campeões entre as temporadas 1992-1993 e 2017-2018 aumentou 1,6 anos. Passando de 24,9 na primeira temporada analisada para 26,5 na última (Kalen et al. 2019). Há uma clara perda de desempenho físico em jogadores com mais de 30 anos em comparação com jogadores de futebol mais jovens. Depois de analisar 10.739 jogadores da La Liga espanhola durante a temporada 2017-2018, três pesquisadores
descobriram que a distância total percorrida por jogadores com mais de 30 anos é 2% menor do que a percorrida por jogadores mais jovens.


A distância percorrida, o número de esforços ou sprints de alta intensidade e a velocidade máxima alcançada também diminuíram significativamente, entre 5% e 30% nos jogadores acima de 30 anos de idade. A perda de desempenho é especialmente drástica naqueles com mais de 35 anos. Mas alguns clubes brasileiros continua trazendo de volta esses jogadores que para os clubes Europeus não dão mais conta do alto rendimento. Esta tendência de queda após os 30 anos foi observada em todas as posições, embora os jogadores nas alas pareçam experimentar uma menor perda de
nível de desempenho. Esta evolução de desempenho também foi observada em jogadores que disputam a Bundesliga alemã (Folgado et al. 2018).

A distância total percorrida, o número de sprints (mais rápido que 6,3 m/s=22,7 km/h durante pelo menos 1 segundo) e o número de corridas rápidas (mais rápido que 5,0 m/s = 18 km/h durante pelo menos 1 segundo) diminuíram 3,4%, 21% e 12%, respectivamente, em jogadores com mais de 30 anos, em comparação com jogadores de futebol mais jovens. Porém, o desempenho técnico-tático parece ser melhor nos jogadores mais velhos. A porcentagem de passes bem-sucedidos é 3%-5% maior em jogadores com mais de 30 menos em comparação com jogadores entre 16 e 29 anos. É possível que a deterioração do desempenho físico dos jogadores mais jovens seja compensada por uma melhoria noutras competências, como a tomada de decisões e a inteligência de jogo. Outro estudo (Folgado et al. 2018) sugere que a sincronização dos jogadores mais experientes durante a competição (ou seja, a coordenação dos seus movimentos durante o jogo) é melhor do que a dos jogadores mais jovens e melhora com menos sessões de treino.

Caros, não consigo entender porque alguns clubes brasileiros contratam tantos jogadores velhos em curva descendente e pagando salários milionários. Um desses clube é o tradicional Fluminense FC do estado do Rio de Janeiro. O goleiro atual hoje tem 43 anos e muitos superam os 35 anos de idade quando a curva fisiológica de rendimento está beirando o chão. Na Europa os clubes não rasgam dinheiro. Um estudo de regressão linear (um método estatístico) foi aplicado a idade de jogadores da Premier League para verificar o pico de desempenho durante as temporadas 2014/2015 e 2020/2021 em várias posições do futebol. A idade dos atletas não apresenta simetria, os jogadores podem não se desenvolvem no mesmo ritmo com que se deterioram.

Para isso, foi usado um Modelo Aditivo Geral (GAM) e a idade foi tratada por meio de uma regressão linear típica ajustada a uma equação a um conjunto de dados seguindo a forma: sim=β1x +β0+ ϵ. Isso encontrará a linha reta que melhor se ajusta a qualquer conjunto de dados, mesmo que os dados não tenham o formato de uma linha. A idade tem claramente um efeito de “ascensão no pico e queda no desempenho”.

E assim foi feito para mapear o comportamento das idades de pico e de queda do desempenho dos jogadores. Uma coisa que devemos notar aqui, porém, é que todos os jogadores envelhecem de uma forma ou de outra; embora possa haver muitos jogadores excelentes com mais de 30 anos (Cristiano Ronaldo, etc), isso não significa que não tenham começado a diminuir, talvez até significativamente. Alguns jogadores, porém, têm um nível de talento básico tão alto que seu “declínio” ainda os deixa melhores do que praticamente todos os outros, mesmo que esses outros jogadores estejam no auge.


Este gráfico é notório e mostra claramente que o pico de desempenho que vai desabando após os 30 anos de idade. Para homens e mulheres futebolistas a idade não perdoa. Para vocês terem uma ideia do fôlego pulmonar, há uma diminuição
progressiva no VO2max (potência aeróbia) com o envelhecimento a uma taxa de 9% a 10% por década ou 0,46 mL/kg/min/ano (homens) isso representa 1,2% e de 0,54 mL/kg/min/ano (mulheres) isso representa 1,7%. Essa velocidade de aumento na perda de VO2 com o envelhecimento diminui para 50%, ou seja, 0,22 mL/kg/min/ano (homens) e 0,27 mL/kg/min/ano (mulheres) nos indivíduos que treinam ou fazem atividade física sistemática com regularidade (Robinson et al. 1976; Raven & Mitchell, 1980) como corre com os atletas.

Observem que aqui nesse estudo acima, que não se discute o aspecto técnico do atleta como Messi, Cristiano Ronaldo, etc. Mas caro leitor, note que após os 30 anos o pico de performance visto pela curva começa a descer progressivamente. No entanto, clubes brasileiros contratam à vontade esses jogadores, pagando altíssimos salários, que pela fisiologia estão mais para a aposentadoria do INSS do que para o futebol de alta competição. Vejam as % de queda do rendimento do pico nas idades (quadrados brancos em porcentagem). Em primeiro lugar, é importante dizer, como aludimos acima, existe um viés de sobrevivência devido ao fato de os jogadores incluídos nas extremidades do conjunto de dados serem, provavelmente, muito melhores do que a média dos jogadores de futebol de 18 ou 40 anos (Messi e Cristiano Ronaldo, por exemplo).

Este tipo de viés de sobrevivência, no entanto, pode ser mitigado controlando a capacidade dos jogadores no nosso conjunto de dados; incorporar controles de jogadores no modelo, assumindo que cada jogador tem um nível básico de habilidade e examinando rigorosamente a mudança em seu desempenho de temporada para temporada significa que o extraordinário nível de talento dos jogadores nas extremidades do conjunto de dados não influencia o resultados da curva de envelhecimento. Embora seja interessante poder identificar, em geral, quando os jogadores atingem o pico e o declínio, é provável que exista uma heterogeneidade significativa no impacto do envelhecimento no desempenho dos jogadores entre diferentes grupos de posição que a estatística não é capaz de mostrar.

Por exemplo, já ouvimos muitas vezes que os alas normalmente dependem de mudanças rápidas de ritmo e velocidade para se destacarem, enquanto os zagueiros podem jogar em alto nível sem serem rápidos ou acumularem muita distância em campo. Como resultado, faria sentido se os extremos envelhecessem relativamente rapidamente, porque quando o seu ritmo diminui, tornam-se significativamente menos úteis, enquanto as defesas (zagueiro central e quarto zagueiro) centrais envelhecem relativamente lentamente, porque podem continuar jogando em um nível elevado, mesmo sem um tremendo ritmo ou agilidade.

A Figura acima, portanto, mostra as curvas de envelhecimento segmentadas por posição. Para construir isto, o modelo GAM é iterado em cinco conjuntos de dados únicos, um conjunto de dados para cada posição, o que significa que as curvas de envelhecimento para cada posição são independentes umas das outras. A Figura acima ilustra que, relativamente em linha com nossos anteriores, zagueiros e alas, duas posições que tradicionalmente dependem do ritmo, atingem o
pico relativamente cedo, por volta dos 26 anos de idade, os zagueiros e meio-campistas atingem o pico por volta dos 26,5 a 27,5 anos de idade, e os atacantes atinge o pico por volta dos 28,5 anos de idade. Talvez mais interessante do que os seus picos seja o fato de existir uma heterogeneidade significativa no ritmo com que os jogadores declinam dos seus picos nos diferentes grupos de posição.

Mais uma vez, os zagueiros centrais demoram mais tempo para cair: os zagueiros centrais diminuem para 50% do seu pico, em relação ao seu valor mínimo aos 40, aos 35,2 anos. Os alas, por outro lado, diminuem para 50% do seu pico aos 31 anos.

A análise etária leva em consideração o tempo de jogo de cada jogador de futebol. Os dados apresentados representam, portanto, valores medidos “em campo”.

Nas 19 ligas analisadas, a média de idade das escalações em campo foi de 25,2 anos. Os clubes do norte da Europa são os que têm maior probabilidade de utilizar jovens jogadoras, enquanto duas ligas não europeias são as mais antigas: o Brasileiro Feminino e a NWLS nos Estados Unidos. A Kansallinen Liiga finlandesa é a única competição estudada onde a faixa etária dos 22 aos 25 anos não é a mais representada em campo. No total, os jogadores de futebol dessa faixa etária jogaram 41% dos minutos, em comparação com 25% dos jogadores com idades entre 26 e 29 anos. As jogadoras de futebol jovens (com 21 anos ou menos) também foram mais utilizadas do que as experientes (com 30 anos ou mais), com diferenças significativas entre as ligas. A liga brasileira se aproxima de uma idade perigosa comparada aos homens. Este resultado sinaliza que o crescimento do futebol feminino depende de meninas mais jovens. As categorias de base precisam ser incrementadas urgentemente. Lembrando que a queda física da mulher é maior do que a dos homens para a mesma idade.

A Figura acima mostra a distribuição dos picos dos jogadores de acordo com o modelo GAM de regressão linear com a taxa de decaimento individual do jogador e a idade. Como podemos ver, a maioria dos jogadores atinge o pico, de acordo com a especificação deste modelo, dos 26 aos 29 anos. Para dar um exemplo específico, de acordo com este modelo, Kevin De Bruyne (Manchester City FC), que atualmente tem 30 anos, “atingiu o pico” quando tinha cerca de 27,5 anos de idade. Por essas curvas de desempenho vs envelhecimento, vocês já imaginaram como será difícil a competição para Marta e Cristiane, com quase 40 anos para atuar nos jogos olímpicos da França? Isso é ciência. Será que o treinador sabe sobre esse assunto? Que tipo de posicionamento ele vai ter para escalar essas jogadoras?

Em última análise, como demonstrado acima, os jogadores de futebol das 5 principais ligas da Europa, em média, atingem o “pico” aos 27,4 anos de idade. Além disso, ao incorporar a heterogeneidade individual no envelhecimento com a variável taxa de decaimento associado ao aumento da idade, verificamos que os jogadores de futebol, geralmente, atingem o pico entre os 26 e os 29 anos de idade. Além disso, descobrimos que existe uma heterogeneidade no envelhecimento entre jogadores em diferentes posições: ambos os meio-campistas e laterais tendem a atingir o pico precocemente, por volta dos 26 a 27 anos de idade, embora os meio-campistas declinem muito mais rapidamente do que os laterais. Os meio-campistas também tendem a atingir o pico por volta dos 27 anos de idade, enquanto os zagueiros e atacantes tendem a atingir o pico por volta dos 27,5 a 28 anos de idade. Além disso, os zagueiros tendem a permanecer mais próximos do pico após os 30 anos.

Como vocês podem notar nesse organograma do envelhecimento após os 30 anos, somente o treinamento físico pode reduzir a velocidade de queda do desempenho físico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bom, as implicações práticas destas descobertas para a formação são que a combinação de juventude e maturidade num grupo de jogadores pode ser a melhor fórmula para o sucesso. Contudo, algumas idades são comprometedoras quando se pensa em desempenho atlético. Não por acaso que os clubes que têm mais consciência sobre a deficiência desses jogadores têm os dispensados. Parece necessário individualizar ao máximo a preparação dos jogadores de acordo com a sua idade: nem todos necessitam do mesmo treino para atingirem a melhor versão de si próprios. Ao contratar novos jogadores, as exigências da posição específica devem ser consideradas. Talvez os clubes não devessem contratar apenas jogadores muito jovens.

Quando é necessário um conhecimento mais profundo do jogo, seria melhor contratar jogadores mais “velhos”, e quando é necessário um nível de desempenho físico mais elevado, então jogadores mais jovens devem ser contratados. Um jogador de futebol experiente talvez também precisasse de menos tempo para se adaptar a um novo clube e daria o seu melhor desde o início. Os clubes poderiam ajustar o salário dos jogadores aos níveis de desempenho esperados de acordo com a sua idade. Isso é algo que sempre deve ser considerado com cuidado. Cada jogador é único. Suas necessidades devem ser adaptadas. Mostramos que as curvas de envelhecimento são claras e a queda de rendimento são inquestionáveis.

Os jogadores nos estudos foram classificados em cinco posições e em cinco faixas etárias (<20 anos, 20-24,9 anos, 25-29,9 anos, 30-34,9 anos e ≥35 anos). Os resultados mostraram que (a) jogadores de futebol profissional com idade ≥30 anos apresentam uma diminuição significativa (p <0,01) na distância total percorrida, distância de corrida de média velocidade, distância de corrida de alta velocidade (HSR), distância do sprint e velocidade máxima de corrida em comparação com jogadores mais jovens (<30 anos); (b) jogadores de futebol profissional com idade ≥35 anos apresentam uma diminuição significativa (p < 0,01) no número de sprints em comparação com jogadores mais jovens (<35 anos); e (c) todas as posições de jogo nos mais velhos reduziram seu desempenho físico; no entanto, os meio-campistas externos foram menos afetados pelos efeitos da idade.

Portanto, senhores, este estudo demonstra que o desempenho físico dos jogadores diminui com o aumento da idade como mostram as várias curvas desse artigo. Tais descobertas podem ajudar treinadores e dirigentes a compreender melhor os efeitos da idade no desempenho físico relacionado aos jogos e podem ter o potencial de auxiliar nas decisões relativas a contratações e gestão da lista de jogadores em clubes de futebol profissional. Por Dr. Paulo Roberto Santos Silva, DSc, PhD (FMUSP), Post PhD I (Unifesp-Medicina), Post PhD II (FMUSPCiências) Fisiologista do Exercício/FIFA/FIMS/LEM

Comentários Facebook

Compartilhe esta postagem